Não é segredo que o Brasil é um dos países que mais ama comer carne. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os churrascos e bifes do nosso dia a dia conseguiram acumular impressionantes 96,7 quilos de carne consumida por cada brasileiro ao final de 2013. Entretanto, logo em 2014 esse número já começou a entrar em queda.

As previsões da Conab apontam que 2021 será o ano com a menor diminuição do consumo de carne que o país teve em 25 anos, o que não é surpreendente quando consideramos a inflação de 35,7% que o seu preço acumulou. Com os altos valores da carne bovina e a crise que a maioria das famílias está passando, a busca por carnes mais baratas decolou.

É por isso que, neste post da nossa série sobre raças de gado, falaremos sobre o Guzerá. Com a sua alta eficiência alimentar e duplo propósito, os animais dessa raça têm sido a escolha preferida de vários criadores ao redor do Brasil. Além disso, um bezerro de Guzerá custa, em média, R$815,00 – o que é excelente, visto que o Nelore, uma raça com menor eficiência alimentar, tem o seu preço em torno de R$1.600,00.

Se você quer aprender mais sobre essa raça indiana e receber informações completas sobre a sua história de origem, características dos animais e suas vantagens e desvantagens, continue a leitura para descobrir se realmente vale a pena investir no Guzerá!

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História do Guzerá

A trajetória do Guzerá (ou Kankrej) começa no distrito indiano pré-desértico de Kutch, localizado no estado de Gujarate. Essa foi a região que os historiadores atribuíram à origem da raça, mas há registos de mais de 5 mil anos do Guzerá no Iraque, Síria, Mesopotâmia e no Paquistão – presume-se que seus animais eram utilizados principalmente para transporte e caçada.

Não há muitas informações sobre a evolução genética do Kankrej, mas sabe-se que o seu rebanho suporta grandes períodos de seca e precisa de menos quilos de alimento que outras raças para crescer de maneira satisfatória. A Índia, reconhecendo a sua importância econômica, colocou a imagem da raça como símbolo do seu Ministério de Agricultura.

O Guzerá foi a primeira raça zebuína a ser trazida para o Brasil. Em 1870, o Barão de Duas Barras importou seus animais a fim de usá-los para carregar carroças e transportar vagões pesados de café pelas montanhas do Rio de Janeiro. Por isso e por ter um incrível rendimento de carcaça e produção leiteira, a popularidade do Guzerá se espalhou rapidamente pela área fluminense e pelo Brasil inteiro.

Apesar de ter sofrido algumas quedas em determinados momentos, a sua sobrevivência à seca nordestina de 1978 a 1983 provou a viabilidade da raça e, em pouco tempo, cerca de 70% do gado do Nordeste era Guzerá. Hoje, essa raça rústica e pioneira representa cerca de 4% dos zebuínos de todo o país.

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Características do Guzerá

Conhecida pelo seu porte imponente e grandes chifres em formato de lira, o Guzerá tem mostrado há mais de 5 mil anos o seu grande potencial de adaptabilidade aos climas e terrenos mais difíceis. Mas essa não é a única característica que diferencia essa raça das demais – conheça-as abaixo:

  • Zootécnicas

A pelagem do Guzerá varia entre as cores cinza claro e escuro, com a possibilidade de tons pardos e prateados. Os seus membros são musculados e bem desenvolvidos, então a raça consegue resistir a longas caminhadas em terrenos difíceis sob o sol quente. Isso é devido a sua região indiana de origem, cuja temperatura diurna costuma ser de 41ºC.

Outra característica notável da raça rústica é que, mesmo em condições áridas, a sua fertilidade é altíssima e as taxas de partos bem sucedidos também, pois os bezerros nascem pequenos (machos com 30kg e fêmeas com 28kg), o que facilita a sua saída – principalmente em primeiras crias.

  • Cruzamentos

Os animais da raça são muito férteis e apresentam resultados incríveis quando cruzados com outras espécies – quando combinados com vacas leiteiras Girolando, os mestiços Guzolandos nascem e são muito bem aproveitados por seus úberes grandes e saudáveis que produzem altas quantidades de leite.

Além disso, os bezerros têm a sua carne melhorada e podem ser aproveitados como animais de corte ao invés de serem descartados.

Quando cruzados com a raça Holandesa ou Pardo-Suíço, as fêmeas também ficam com excelentes produções leiteiras e os machos alcançam um um ganho de peso diário altíssimo – quando criados no pasto, em menos de 24 meses o animal já pode ser abatido e vendido por mais de 15 arrobas.

Mas a raça indiana não é eficaz somente nesses cruzamentos selecionados: em vacadas comuns, originadas de várias raças, o Guzerá é capaz de padronizar os animais gerados em tipo e qualidade, além de aumentar sua a longevidade, a saúde e peso. Ou seja, a versatilidade de cruzamento da raça é extremamente vantajosa para agregar valor ao gado de qualquer fazenda!

  • Leite

Como você viu, o Guzerá e seus mestiço Guzolando e Guzonel (cruzamento com a raça Nelore) são altamente eficazes na quantidade de produção de leite. Em média, cada vaca consegue produzir incríveis 13 quilos de leite todos os dias!

E a qualidade do produto também não deixa a desejar, sendo considerado um leite mais saudável que não causa alergias nos humanos e é campeão em taxas de gorduras e proteínas.

Outro fator impressionante sobre o leite de Guzerá é que a sua contagem de células somáticas é baixa, e como explicamos no nosso post sobre mastite bovina, isso é o indicador principal de que o animal é resistente a essa doença.

Ou seja, além de produzir altas quantidades de leite de boa qualidade, a raça indiana ainda é menos suscetível à inflamação que mais acomete vacas leiteiras e gera prejuízos para o produtor.

Logo, o Guzerá é considerado uma raça de dupla aptidão – boa de carne e leite! E caso pretenda utilizar desses animais para fins leiteiro, sugerimos que dê uma olhada no nosso post sobre como observar e melhorar ainda mais a qualidade do leite.

  • Ganho alimentar

Um dos maiores custos para os pecuaristas é a alimentação do gado, então qualquer auxílio nesse setor é de grande valor. O Guzerá é capaz de obter ganhos alimentares impressionantes com uma quantidade reduzida de alimento – em algumas provas, os touros da raça comprovaram precisar de 18% a menos de comida que a média dos outros animais para ganhar a mesma quantidade de peso!

  • Custo baixo

A Empresa Brasileira de Agricultura e Pecuária (EMBRAPA) realizou uma pesquisa que provou que o sangue Zebu presente no Guzerá atrai menos carrapatos que outras raças. Ou seja, além de ser resistente contra a mastite, como mencionamos, a raça indiana ainda é menos suscetível a pragas rurais, o que diminui os seus custos com medicamentos e consultas veterinárias.

Devo investir na raça?

Pronto, chegamos a pergunta que vale ouro. Será que você realmente deve investir na raça? Bom, o retorno econômico do Guzerá é inquestionável – por um baixo custo de criação e tratamento com produtos veterinários, você tem vacas com o potencial de produzir quantidades valiosas de leite e bezerros e touros cuja carcaça é bem valorizada no mercado.

Mas todas as raças têm alguma desvantagem, e a do Guzerá é a sua tendência a condições como monorquidíssimo ou criptorquidismo, prognatismo, lábio leporino, tórax deprimido e pele sem pigmento. Para decidir se deve ou não passar a criar um rebanho de Guzerá na sua fazenda, compare esses riscos com as possíveis vantagens que a raça pode trazer.

Se quiser conhecer o que as outras raças mais famosas do país têm a oferecer, continue acompanhando a nossa série! O post sobre o Charolês já saiu, confira e descubra se a raça francesa é mais vantajosa para você do que a indiana!

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