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Infelizmente, ainda hoje, muitos produtores de leite e de gado de corte desconhecem  ou não dão o devido valor a uma das boas práticas de manejo mais importantes na criação de bezerros, que é cura da região umbilical imediatamente após o nascimento e de forma correta. Por isso, temos encontrado, em nossa prática diária, um número muito alto de bezerros com infecções umbilicais (onfalites), chegando a até 60 a 70% dos bezerros em várias propriedades que tivemos a oportunidade de acompanhar.

Após o nascimento, o cordão umbilical pode se tornar a ¨ linha da morte ¨, caso a região umbilical não seja curada corretamente. Se a cura da região umbilical for tardia e mal feita, as estruturas que formam o cordão umbilical (veia, artérias e o úraco, que é um canal que chega até a bexiga) permanecerão abertas, tornando-se portas de entrada para bactérias que irão causar infecções em diferentes locais do organismo do bezerro.

Vale lembrar que, para nosso azar, a maioria dos partos ocorre antes do amanhecer e, por isso, várias horas já terão se passado antes da cura da região umbilical. Então, aí vai uma boa recomendação: de manhã cedinho, antes de começar a ordenha, vá o piquete maternidade para fazer a cura da região umbilical e fazer a colostragem do bezerro.

Então, a melhor forma de fazer a cura da região umbilical é mergulhar o coto umbilical e a pele da região do umbigo em um frasco contendo uma solução de álcool iodado a 5%. Esta solução reúne duas características muito importantes. Em primeiro lugar, a capacidade do iodo e do álcool de matar as bactérias por dentro e por fora e, em segundo lugar, a capacidade do álcool de desidratar e mumificar (¨secar”) as estruturas do cordão umbilical, fazendo com que se fechem rapidamente após o nascimento e, então, fechando as “portas de entrada” para bactérias que causam infecções em diferentes locais do corpo do bezerro e também no próprio umbigo.  A solução de álcool iodado a 5% deve ser preparada e utilizada da seguinte forma:

1) Misturar álcool comum e tintura de iodo a 10% na proporção de 1:1 (Por exemplo: 1L de álcool + 1L de tintura de iodo a 10 %). Manter a solução em um recipiente escuro, pois a luz solar inativa o iodo (por exemplo, garrafa de cerveja ou enrolar o recipiente com jornal).

2) Colocar um pouco da solução de álcool iodado a 5 % em frasco de boca larga (Por exemplo: frasco de Toddy de 250 mL ou copo de dipping de ordenha sem retorno). A solução de iodo deve ser descartada sempre que estiver suja.

3) Cortar o cordão umbilical a cerca de 5 a 7 cm da pele, após desinfetar a tesoura na solução de álcool iodado a 5%, se o coto estiver muito comprido.

4) Mergulhar o coto do cordão umbilical e toda a pele da região do umbigo na solução de álcool iodado a 5%, por 1 minuto, para que as estruturas do umbigo aspirem um pouco da solução. No período da seca, como o risco de contaminação é menor, realizar este procedimento uma vez ao dia, durante três dias seguidos. Nas águas, por causa excesso de barro e moscas, deve-se realizar a imersão duas vezes ao dia, durante cinco dias seguidos ou até que o coto do umbigo esteja complemente seco.

Lembrar que, se o bezerro ficar o com a vaca, ela vai lamber a região umbilical, retirando a solução, e, por isso, deve-se fazer a imersão mais vezes. O cuidador dos bezerros deve palpar e observar o umbigo diariamente, para ver se já está bem seco e sem a presença de pus ou sangue, quando, então, se pode finalizar a cura.

5) Caso ocorra algum sangramento, pode-se amarrar o coto com um barbante, depois de desinfetá-lo na própria solução de álcool iodado a 5%. A falta de um local adequado para o nascimento do bezerro (piquete maternidade) e as falhas na cura da região umbilical do bezerro recém-nascido apresentadas aqui fazem com que os animais desenvolvam onfalites, que são observadas como: inchaço (aumento de volume) do umbigo, presença de pus e, em muitos casos, de miíases (“bicheiras”), o que piora ainda mais o problema. Em geral, essas onfalites causam muita dor e febre, deixando o bezerro prostrado e com menos apetite, o que compromete seu desenvolvimento. Mas, além de causar esses problemas externos, frequentemente percebidos pelo produtor apenas quando já estão muito avançados, a infecção pode se espalhar pelo corpo do bezerro, causando problemas graves, como diarreia, pneumonia, poliartrite (infecção nas ¨juntas¨), meningite e infecção no sangue (septicemia), que, em muitos casos, levam o animal à morte, além de aumentar a possibilidade ocorrência de hérnia umbilical.

Então, como se pode perceber, é de suma importância curar adequadamente a região umbilical do bezerro logo após o nascimento para se evitar gastos com medicamentos, trabalho para medicar os animais e, principalmente, para que as onfalites não comprometam o desenvolvimento do bezerro ou mesmo o levem à morte, reduzindo a eficiência econômica da criação de bezerros da propriedade.

Segue abaixo um vídeo explicativo com mais detalhes.

Fonte: Blog Valeu Vallée

Foto: Timblindim